Mecanismos de planeamento e gestão curricular com caráter intencional e estratégico

"O Decreto-Lei n.º 55/2018, logo no seu texto introdutório, chama a nossa atenção para a importância de equacionar o currículo “(...) como um instrumento que as escolas podem gerir e desenvolver localmente (…)”, considerando, por isso, que se desafiem as escolas, conferindo-lhes autonomia para, em diálogo com os alunos, as famílias e com a comunidade, poderem flexibilizar a gestão do currículo de modo que os alunos possam alcançar as competências previstas no Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória. A mesma ideia surge no Decreto-Lei n.º 54/2018, quando coloca no centro da atividade escolar as aprendizagens dos alunos e a gestão do currículo de forma flexível e em linha com o perfil e necessidades de cada aluno. (…) a visão destes documentos espelha orientações internacionais que colocam estes desafios de mudança no seio das comunidades educativas, uma visão holística do aluno enquanto elemento interventivo na comunidade educativa, construtor das suas aprendizagens e participante ativo no questionamento, pesquisa, experimentação e exploração de conteúdos, de temas e conhecimentos para a resolução de problemas de sua comunidade. Pretenderemos mostrar uma visão do aluno protagonista da sua aprendizagem e agente ativo e com voz na comunidade para fazer valer as suas escolhas e os seus interesses.

 

O Learning Compass 2030 da OCDE é uma estrutura em evolução que estabelece uma visão ambiciosa para o futuro da educação. Fornece pontos de orientação para o futuro que queremos: bem-estar individual e coletivo. A metáfora de uma bússola de aprendizagem foi adotada para enfatizar a necessidade de os alunos aprenderem a navegar com orientação, mas por si mesmos, em contextos desconhecidos. A educação já não é apenas ensinar aos alunos algo específico e centrado em conteúdos; é mais importante ensiná-los a desenvolver uma bússola e ferramentas de navegação confiáveis para que eles possam encontrar o próprio caminho num mundo em constante mudança, cada vez mais complexo, volátil e incerto. A nossa imaginação, consciência, conhecimento, competências e, o mais importante, os nossos valores comuns, maturidade intelectual e moral e sentido de responsabilidade são o que nos guiará para o mundo se tornar um lugar melhor (Blogue.rbe.mec, 2019).

 

A Bússola de Aprendizagem proposta pela OCDE estabelece, pois, uma visão para o futuro da educação onde é desejável a existência de um currículo dinâmico e aplicável a todos os tipos e níveis de educação, em que os diferentes temas e disciplinas estão inter-relacionados e cada aluno realiza um percurso diferente de aprendizagem consoante as suas competências prévias, talentos e vontade. Perspetiva, ainda, “diferentes tipos de avaliação para diferentes fins”, em vez de testes normalizados (OCDE, 2019, p. 13). A Bússola de Aprendizagem 2030 é composta por sete elementos indissociáveis e complementares, que passamos a apresentar:

1. Fundamentos essenciais - Tendo como propósito o bem-estar individual e coletivo, as aprendizagens essenciais “não abrangerão apenas a literacia e numeracia, mas também a literacia de dados e digital, a saúde física e mental, a saúde social e aptidões emocionais.” (Ibid., p. 25).

2. Competências transformadoras – São três: “Criar novo valor” para uma vida melhor, questionando o statu quo, cooperando e pensando de modo criativo; “Conciliar tensões e dilemas”, resolvendo problemas complexos, aprofundando e equilibrando as próprias posições com posições opostas e cultivando relações de respeito e empatia; “Assumir responsabilidades”, avaliando as próprias ações com base na sua experiência e nos objetivos éticos de educação (Ibid., p. 60).

3. Alunos como agentes e/ou co-agentes - Sempre que os alunos são ativos no que e como aprendem, aumenta o seu gosto por aprender a aprender, o que produz benefícios na própria vida e na vida da comunidade, sendo reforçado o seu sentido de realização e pertença (Ibid., p.32). Para além de serem responsáveis pela própria aprendizagem, eles - tal como os professores e diretores - são agentes de mudança do sistema educativo.

4. Conhecimento - “As competências correspondem a um conceito holístico que envolve a mobilização de conhecimentos, aptidões, atitudes e valores para satisfazer exigências complexas.” (Ibid., p. 84). A Bússola de Aprendizagem 2030 reconhece diferentes tipos de conhecimento: Disciplinares (sobre temas específicos); Interdisciplinares (relação entre temas ou trabalhados com base em projetos); Epistémicos (pensar e trabalhar como um profissional especializado); Processuais (compreender os passos como algo é feito). Todos os conhecimentos têm uma componente teórica – concetual – e prática - baseada na experiência - e contribuem para uma compreensão alargada e aprofundada de problemas e contextos (Ibid., p. 72).

5. Aptidões - Correspondem à capacidade de usar o próprio conhecimento para um objetivo e, segundo a Bússola de Aprendizagem 2030, são de três tipos: Cognitivos e metacognitivos (aprender a aprender ao longo da vida); Sociais e emocionais - “empatia, auto-consciencialização, respeito pelos outros e capacidade de comunicar estão a tornar-se essenciais à medida que as salas de aulame locais de trabalho se tornam mais étnica, cultural e linguisticamente diversos”; Práticos e físicos – associados a tarefas manuais, ao desporto e às artes, promovem o envolvimento emocional, a inteligência empática, o empenho e a persistência na aprendizagem (Ibid., p. 84).

6. Atitudes e valores – Traduzem-se nos princípios e (pre)conceitos que influenciam os nossos julgamentos, decisões e ações em direção ao bem-estar. À medida que os locais de trabalho e comunidades são mais diversificados, que a tecnologia se desenvolve, que a confiança nas instituições é posta em causa, valores partilhados de cidadania adquirem uma importância crescente na aprendizagem (Ibid., 100).

7. Ciclo Antecipação-Ação-Reflexão - É importante que as ações praticadas sejam intencionais e responsáveis e, por isso, é necessário antecipar antes de agir - prevendo as consequências e compreendendo as próprias intenções, bem como as intenções dos outros - e refletir depois da ação praticada - tornando mais eficiente o pensamento e ação (Ibid., 118).

 

No documento Futuro da Educação e Competências 2030 - Bússola de Aprendizagem 2030 opta-se por “utilizar a palavra ‹aprendizagem› em vez de ‹currículo› para que o quadro [2030 da OCDE] abrace todas as formas de aprendizagem, incluindo atividades formais, não formais e informais” (Ibid., p. 130).

No geral, propõe uma visão holística do que os alunos precisam de aprender para moldar um futuro melhor e ajuda os Estados-Membros e parceiros a construírem uma visão comum sobre o futuro da educação, conforme nos apresenta em síntese o vídeo que se segue:



Retirado de "Módulo 4: A inclusão na sala de aula"


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