"Desfazer
o equívoco #2 em três passos:
1.
O enfoque da diferenciação pedagógica deve ser colocado nas respostas
educativas e não em categorias de alunos. Assim, deve ser abandonada a
categoria “necessidades educativas específicas” em prol de uma categoria mais
alargada que integre a diversidade das pessoas, tanto no domínio socioeconómico
e cultural, como no domínio cognitivo, motor, sensorial, motivacional, entre outros,
por forma a garantir o pleno acesso à participação em todos os contextos
educativos. É preciso não
esquecer que o problema não é a diversidade em si
mesma, mas a desigualdade no acesso às aprendizagens que está associada a essa
diversidade, na forma de vantagens e desvantagens frequentemente cumulativas e
interseccionais. Individualizar as causas do insucesso de uns por contraste com
o sucesso de outros, ou seja, atribuir exclusivamente a questões de caráter, disposição
ou vontade nega à partida a parte de responsabilidade da escola e dos docentes
nesse processo. A educação inclusiva é, portanto, um direito de TODOS os alunos
e não um privilégio mediante pré-requisitos e predisposições.
2.
A diferenciação pedagógica deve ser entendida como um pressuposto estruturante
de uma ação pedagógica que abrange TODOS os alunos no âmbito da sua
aprendizagem, e não só aqueles que estão diagnosticados como alunos com
necessidades educativas. Assim, os processos que suportam a ação pedagógica
devem ser diferenciados, quanto às suas finalidades e aos seus conteúdos,
quanto ao tempo e ao modo de os alunos aprenderem, quanto aos recursos,
condições e apoios que são disponibilizados.
3.
Os projetos educacionais inclusivos devem ser culturalmente mais amplos e
significativos, compreendendo as características (incluindo as socioculturais)
e necessidades educativas de todos os alunos, que podem ser mais ou menos
diferenciadas, de modo a tornar inteligível a relação entre esses projetos e o
próprio conceito de inclusão educativa, conducente à criação de ambientes educativos
onde cada interveniente possa contribuir, à medida das suas possibilidades,
para a aprendizagem e consequente sucesso educativo. (...)
Desfazer
o equívoco #3 em três passos:
1.
As medidas de suporte à aprendizagem e à inclusão têm como finalidade a
adequação às necessidades e potencialidades de cada aluno; finalidade essa que
só pode ser atendida tendo em conta a mobilização de todos os profissionais da
escola, docentes e não docentes, atuando por forma a seguir uma lógica
colaborativa e de corresponsabilização com os docentes de educação especial, tendo
em conta as especificidades dos alunos. Aliás, a definição das medidas a
implementar, segundo diferentes níveis de concretização, deve ser realizada por
todo o corpo docente, a partir das evidências decorrentes da avaliação
sistemática e atenta dos comportamentos dos alunos, não obstante a intervenção
necessária das famílias e/ou encarregados de educação e outros técnicos que intervêm
diretamente com o aluno.
2.
O docente é um dos protagonistas da educação inclusiva, pois é o principal
responsável pelas diferentes etapas do processo educativo, desde a definição de
objetivos, passando pelas estratégias a implementar, pela planificação das
aulas e culminando na avaliação das aprendizagens. As políticas de educação
inclusiva materializadas nos Decretos n.º 54 e 55 visaram justamente dar
ferramentas a TODOS os docentes, com o apoio dos demais agentes, para lidar com
os desafios da diversidade, com os quais sempre se debateram, permitindo-lhes
cumprir o seu mandato profissional enquanto agentes de justiça social. Isso
passa por valorizar e assumir o compromisso de responder a uma ampla gama de
necessidades dos alunos sob a sua tutela, organizando a intervenção mediante a gama
de recursos disponíveis, em colaboração com os outros docentes - incluindo os
docentes de educação especial -, com as famílias e EE, com os serviços de
intervenção precoce e com outros técnicos ou serviços que intervêm com a
criança ou jovem, para benefício destes.
3. As funções dos docentes de educação especial não se esgotam na intervenção direta ao apoiarem os alunos com medidas seletivas e adicionais, mas, sim, em gerir e otimizar o processo de aprendizagem de todos os alunos da escola, o que envolve a colaboração com os docentes das turmas e a participação na gestão e organização da escola, de forma a sensibilizar a comunidade educativa para a relevância da inclusão educativa."
retirado de "Módulo 1: Gestão da Educação Inclusiva"
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