“Para uma
avaliação inclusiva, as metodologias e instrumentos “devem então ter relevância
cultural e fazer sentido para os avaliados, de forma que o objetivo principal
não seja determinar o que não sabem, mas descobrir as suas potencialidades e
encontrar maneiras de os encaminhar para novas aprendizagens” (Cid, 2017, p.
8). Todavia, como destaca Cid (2017), ao deixarmos prevalecer a avaliação das
aprendizagens nas escolas, centrada nos resultados e em determinados momentos,
afastamo-nos deste desígnio e potenciamos o abandono escolar e a exclusão
social.
A informação
avaliativa deve ser obtida através de uma diversidade de estratégias, técnicas
e instrumentos. Entenda-se esse processo de recolha de informação como todas as
ações, formais ou informais, não estruturadas ou estruturadas, para obter
elementos acerca das aprendizagens dos alunos (Fernandes, 2021). Trata-se,
portanto, de um processo contínuo, de natureza formativa, tendo como principal
finalidade a proporcionar feedback de qualidade a todos os alunos. Ainda assim,
incluem-se neste processo dados que serão mobilizados para fins de
classificação. Esta diversidade não deverá traduzir-se numa multiplicação de
momentos formais de avaliação, que deixam os alunos - e os professores! -
“sufocados” (os que se importam), como testemunhava uma EE. Esta diversidade
implicará, por exemplo, que, aula a aula, o professor observe, registe aquilo
de que necessitar, pois, em todas a aulas, os alunos trabalham.
(…) Avaliar o
progresso de cada aluno é uma característica essencial de uma escola
comprometida com a inclusão. A avaliação não está dissociada da vida da sala de
aula e, como tal, não se pode basear em acontecimentos isolados, como a
realização do mesmo teste de matemática no 1.º CEB aplicado a todas as turmas
da escola. A avaliação não se resume a dias do calendário escolar; ela é parte
integrante do ensino e implica a reflexão e interpretação dos acontecimentos e
atividades realizados fora e dentro da sala (UNESCO, 2016). A avaliação
contínua assegura que todos os alunos têm oportunidade de ter sucesso porque a
todos é dada a oportunidade de demonstrar as suas aprendizagens de modo diferenciado,
de acordo com os diferentes estilos de aprendizagem (Harris et al., 2015).
De acordo com o
documento Training Tools for Curriculum Development: Inclusive Student Assessment,
publicado em 2017 pela UNESCO, as estratégias adotadas e os dados recolhidos em
consonância com uma avaliação verdadeiramente inclusiva devem ser usados não
apenas para fins “tradicionais”, como seleção, certificação, prestação de
contas ou comparação, mas também, e com mais destaque, para a melhoria do
desempenho e da equidade na educação em todos os níveis – sistémica, institucional
e individual. Este documento propõe técnicas de recolha de informação
avaliativa conducentes a uma avaliação contínua e formativa, entre as quais
destacamos: a observação (notas de campo, listas de verificação, fotografias,
etc.); o registo do desempenho e as produções do aluno (autoavaliação, avaliação
entre pares, rubricas, feedback descritivo, etc.); trabalhos dos alunos
(portefólio, etc.); e os testes (UNESCO, 2017).
A Joana é uma
menina com baixa visão. Chegou ao primeiro ciclo já com indicação de que
deveria aprender braille e trabalho preliminar do Jardim de Infância, mas a
docente da turma não sabia braille. Isso foi o bastante para ela ficar triste,
num canto da sala, sem acompanhamento, e dependente, apenas, do sentido da audição.
A professora de Educação Especial voluntariou-se para aprender e, assim, as duas
foram aprendendo simultaneamente, assim como os colegas da turma. A sua
curiosidade natural fez com que questionassem a docente de Educação Especial e
tornaram-se parceiros na aprendizagem da Joana. A Joana não gostava muito de
escrever na máquina braille, pois era uma tarefa demasiado complexa para a sua
idade e que, por vezes, a afastava de acompanhar o ritmo de trabalho da sua
turma. Ela não queria ficar para trás, gostava de fazer tudo o que os colegas
faziam. Fazer todas as tarefas que a professora propunha na sala de aula ou fora
dela, correr, saltar, pintar, ir ao recreio, andar na rua…
Com a ajuda da
impressora braille, as suas tarefas foram facilitadas e, mais tarde, a linha
braille, quando já sabia ler, tornou-se o seu recurso preferido. Importa referir
que a Joana foi envolvida no processo decisório das estratégias pedagógicas,
assim como nos recursos adaptados utilizados, sendo esta prática decisiva no
processo de avaliação e no sucesso das aprendizagens da aluna.
Testemunho de
docente de Educação Especial
Reflitam,
individualmente, sobre a seguinte situação: Se estiverem preocupados com um
aluno que tem dificuldades em aprender, o que precisam de saber para o ajudar?
1. Elaborem uma
lista do tipo de informações que teria de reunir para analisar e agir em conformidade
para ajudar o aluno.
2. Ordenem o
tipo de informações por importância.
3. Como se
relacionam os procedimentos de recolha de dados listados com os fundamentos da avaliação
inclusiva?
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