“Os
temas da qualidade e da excelência exercem grande atração no atual paradigma
educativo que, grosso modo, podemos designar por paradigma de inclusão.
Conforme este paradigma, o papel do docente integra as exigências de qualidade
pedagógica no cuidado pela equidade como forma de promover o desenvolvimento
pessoal e social dos alunos, penetrando diversos domínios da escola, desde a
manutenção de equipamentos e dos espaços, à criação de um ambiente de qualidade
de vida em conjunto, aos produtos académicos e expressões culturais e
artísticas, entre outras. Assim, este paradigma exige um forte compromisso
por parte do docente, cujos serviços educativos e conceções pedagógicas daí
decorrentes primem pela autonomia e inovação, por forma a criar e mobilizar
programas, instrumentos didáticos e projetos que se adaptem a necessidades tão diversificadas
quanto a população escolar.
Cabe,
com efeito, em boa parte, às lideranças da escola apoiar o corpo docente
no desenvolvimento desses projetos de inclusão, que visem proporcionar, por sua
vez, condições materiais, tecnológicas e humanas, para as quais o bem-estar e
equilíbrio entre o trabalho e a vida familiar esteja garantido. O que está
implícito nesta formulação é que a melhoria da educação em Portugal, na
concretização da sua função social e económica, só terá lugar pela sistemática dignificação
da profissão docente ao nível das condições de trabalho, do desenvolvimento da
sua autonomia e das competências científicas, pedagógicas e deontológicas. Caso
contrário, os professores sentem-se sobrecarregados e abandonados à sua sorte
quando tentam dar resposta às exigências de uma educação que ser quer cada vez
mais inclusiva.
Ora,
o que é certo é que a pessoa humana do aluno não pode, em caso algum, fugir da objetiva
dos projetos educativos inclusivos. Numa escola para todos e de todos, o aluno
não pode ser visto como um meio para atingir efeitos sociais (sucesso,
resultados, preparação para o mercado de trabalho), mas carece de uma atenção
pedagógica cuidada para que possa ser desenvolvida de acordo com as suas
potencialidades. As funções de diagnóstico, adaptação, ajuste,
diferenciação, solidariedade, empatia, etc. são mais do que meras ações
pedagógicas da responsabilidade dos professores - são um imperativo categórico
e a base da deontologia docente e do seu mandato profissional (o seu
juramento de Hipócrates, por assim dizer). O docente da atualidade não pode
deixar de se sentir envolvido com tamanha responsabilidade. Por esta razão, a
negligência profissional tem de ser combatida com todo o zelo pelos sistemas de
monitorização e avaliação educativa. Ou seja, quando o professor deixa de se
envolver no propósito da inclusão educativa, quando ensina para descarregar um
fardo sem interesse nem cuidado pessoal, sem a devida sensibilidade e empenho,
é de negligência que falamos e não de sobrecarga. Não quer dizer que o docente
não se sinta legitimamente sobrecarregado e que, por tal, não mereça a
solidariedade e compreensão de todos. Mas a sobrecarga não pode justificar, por
ser uma falsa premissa, a demissão da relação pedagógica quando o docente deixa
de atuar perante o apelo dos alunos, fechando os olhos às necessidades ou
comportamentos dos mesmos. Enfim, a sobrecarga de trabalho deve ser combatida
com todas as forças, mas não justifica a demissão da responsabilidade perante
os alunos, até porque, como argumentaremos adiante, muito do trabalho visto
como administrativo é, de facto, trabalho pedagógico.”
Retirado
de "Módulo 1: Gestão da Educação Inclusiva"
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